O empreendedor capitalista age com
um objetivo específico em mente: obter lucro monetário. Ele poupa
seu dinheiro ou pede emprestado a terceiros, contrata trabalhadores, compra ou
aluga matéria prima, equipamentos e imóveis. Feito isso, ele começa a
produzir seu produto ou serviço, qualquer que seja, e espera que, ao vender
este produto, obtenha um lucro monetário.
Em Ação Humana – Um tratado de
Economia, Mises observa que, para o capitalista, "o lucro surge como um
excedente do montante recebido sobre o despendido, ao passo que o prejuízo, como um excedente do montante
despendido sobre o recebido. Lucro e prejuízo podem ser expressos em
quantidades específicas de dinheiro."
Como qualquer negócio, um
empreendimento capitalista é arriscado. Os custos de produção e o dinheiro
gasto não podem determinar antecipadamente qual será a receita futura da
empresa. Ao contrário, são os preços e receitas hoje previstos pelo empreendedor
que determinam o montante dos custos de produção em que ele pode possivelmente
incorrer.
No entanto, o empreendedor não sabe
quanto o seu produto custará no futuro ou qual quantidade de seu produto será comprada
a tais preços. Isso depende dos seus clientes, e o capitalista não tem nenhum
controle sobre eles.
O capitalista tem de especular qual
será a demanda futura. Se ele estiver correto e os preços futuros esperados de
fato corresponderem aos preços estabelecidos posteriormente pelo mercado, ele
lucrará. Por outro lado, embora nenhum capitalista tenha o objetivo de
ter prejuízos — porque prejuízos implicam que ele deve, em última instância,
desistir de sua função como empreendedor e tornar-se um empregado de outro empreendedor
(ou um produtor consumidor autossuficiente) —, todo capitalista pode errar em
suas especulações, de modo que os preços efetivamente praticados no futuro
estejam abaixo de suas expectativas iniciais e de seus custos de produção
incorridos. Nesse caso, o empreendedor-capitalista não irá lucrar e sim
incorrer em prejuízo.
Embora seja possível determinar
exatamente quanto dinheiro um capitalista ganhou ou perdeu ao longo do tempo,
seu lucro ou prejuízo monetário diz muito pouco sobre o estado de felicidade do
capitalista, isto é, sobre seu lucro ou prejuízo psíquico.
Para o capitalista, o dinheiro raramente, se não nunca, é o objetivo
final (salvo, talvez, para o Tio Patinhas, e apenas sob o padrão-ouro). Em
praticamente todos os casos o dinheiro é um meio para ações posteriores,
motivadas por objetivos ainda mais distantes e supremos.
O capitalista pode querer utilizar o
dinheiro obtido para manter ou expandir seu papel como um capitalista em busca de
lucros. Ele pode mantê-lo guardado na forma de dinheiro para utilizações
futuras ainda não determinadas. Ele talvez queira gastá-lo em bens de
consumo ou em prazeres pessoais. Ou talvez deseje utilizá-lo em causas
filantrópicas e em caridade.
(...)
O lucro do capitalista indica que ele
soube transformar, com sucesso, meios de ação que eram socialmente menos
valorizados em meios mais valorizados e desejados. Em outras palavras,
ele soube avaliar que os preços dos fatores de produção estavam baixos em
relação aos possíveis preços futuros dos bens e serviços produzidos. Ao
agir assim, ao saber como recombinar estes fatores de produção, ele criou valor
e, consequentemente, aprimorou o bem-estar social.
Mutatis mutandis, o prejuízo do capitalista indica que ele usou insumos mais valiosos
para a produção de produtos menos valiosos e assim desperdiçou meios físicos
escassos e empobreceu a sociedade.
Sendo assim, os lucros monetários são
bons não apenas para o capitalista, mas também para seus semelhantes.
Quanto maior o lucro do capitalista, maior foi a sua contribuição para o
bem-estar social. Igualmente, prejuízos monetários são ruins não apenas
para o capitalista, mas também para seus semelhantes, cujo bem-estar foi
prejudicado pelo seu erro.
(...)
As atitudes e os lucros do
capitalista são justas (1) se ele próprio houver produzido
seus fatores de produção (ou se apropriado originalmente deles, por estarem sem
dono), ou se ele os adquiriu — ou os comprou ou alugou — em uma troca
voluntária e mutuamente benéfica com um proprietário anterior, (2) se ele não
recebe dinheiro confiscado de terceiros, (3) se ele não atua em um mercado
protegido pelo governo, que impede a livre entrada de concorrentes, (4) se
todos os seus empregados foram contratados livremente em termos mutuamente
acordados, e (5) se ele não causa dano físico à propriedade de terceiros no
processo de produção.
Caso contrário, se algum ou todos os
fatores de produção do capitalista não foram produzidos por ele (ou apropriados
originalmente), nem comprados ou alugados por ele de um proprietário anterior
(mas derivados da expropriação da propriedade prévia de uma outra pessoa), se ele
recebe dinheiro do governo, se ele atua em um mercado protegido pelo governo
contra a livre concorrência, se ele emprega trabalho "forçado",
não-consensual, em sua produção, ou se ele causa dano físico à propriedade de
terceiros durante a produção, suas ações e lucros resultantes são injustos.
Em qualquer um destes casos, a pessoa
injustamente prejudicada tem uma reivindicação justa contra este capitalista e
pode insistir em restituição — exatamente como a questão seria julgada e
conduzida fora do mundo dos negócios, em todos os assuntos civis.
Fonte: mises.org.br
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